Santa Clara

Colesterol pode influenciar na atividade da esclerose múltipla

Pesquisa recente, publicada na revista internacional Autoimmunity Reviews, correlaciona o papel do metabolismo do colesterol com a atividade da esclerose múltipla (EM). Embora algumas conclusões ainda não possam ser feitas nessa correlação, as evidências mostram que altos índices da lipoproteína LDL (colesterol ruim) podem aumentar a atividade da doença, enquanto valores elevados da lipoproteína HDL (colesterol bom) resultaria em uma diminuição da atividade.

Neste contexto, trouxemos aqui informações sobre os benefícios e os malefícios do colesterol e um panorama geral da esclerose múltipla, suas possíveis causas e sintomas. Partindo disso, apresentamos a correlação estabelecida pelo estudo entre a EM e o colesterol.

O colesterol

O colesterol é um composto gorduroso presente nas células do corpo, essencial para o bom funcionamento do organismo. Ele é responsável pela formação de membranas celulares, síntese de hormônios, como a testosterona, estrogênio e cortisol, produção da bile, que auxilia na digestão de gorduras, metabolização de vitaminas e formação da mielina – bainha que recobre os axônios, responsáveis pelo fluxo de informações entre os neurônios e outras células do corpo humano.

No organismo humano o colesterol pode ter duas origens distintas, a endógena, produzida pelo próprio organismo, principalmente o fígado, ou a exógena, proveniente de alimentos consumidos.

Tipos de Colesterol

Por ser uma substância gordurosa o colesterol não é dissolvido no sangue. Por conta disso, para que seu transporte seja feito de maneira eficiente ele utiliza as chamadas lipoproteínas LDL, VLDL e HDL.

  • LDL (Lipoproteína de baixa densidade) e VLDL (Lipoproteína de baixíssima densidade)

O LDL transporta o colesterol e um pouco dos triglicerídeos, forma encontrada pelo corpo de armazenamento de energia em formato de gordura. Já o VLDL, transporta triglicerídeos e um pouco de colesterol. São conhecidas como o colesterol ruim, pois levam a gordura para as células facilitando sua deposição nos vasos sanguíneos, podendo causar problemas de saúde como a aterosclerose e a dislipidemia. O consumo de gorduras insaturadas e gordura trans favorece o aumento de seus índices.

  • HDL (Lipoproteína de alta densidade)

O HDL, conhecido como colesterol bom, faz o processo contrário, ela retira o excesso de colesterol das artérias levando para o fígado, onde será processado e excretado através do intestino. Não fumar, praticar exercícios físicos, manter o controle do peso e o consumo moderado de bebidas alcoólicas auxiliam a sua produção pelo organismo.

Como o colesterol é um constituinte fundamental na membrana celular, incluindo as das células nervosas, e também na formação da mielina, cientistas acreditam em uma possível relação com a esclerose múltipla.

O que é a esclerose múltipla?

A esclerose múltipla (EM), segundo o Ministério da Saúde, é uma doença crônica neurodegenerativa e desmielinizante do sistema nervoso central que afeta a comunicação do cérebro com o resto do corpo. O termo desmielinizante se refere ao processo inflamatório da doença que destrói a mielina, responsável em recobrir os axônios, facilitando a comunicação rápida entre os neurônios.

A EM é classificada como uma doença autoimune, que se caracteriza pelo ataque do sistema imunológico às células saudáveis do próprio corpo, nesse caso, as células do sistema nervoso. As causas da doença ainda não são totalmente esclarecidas pela medicina. Atualmente o conhecimento científico indica que diversos fatores podem influenciar no desenvolvimento do quadro clínico, incluindo fatores ambientais, hereditariedade, mutações genéticas, exposição a substâncias tóxicas, tabagismo, falta de vitamina D e até mesmo o colesterol.

A doença pode se manifestar de diferentes formas, que variam de acordo com a sua progressão e recorrência. As três principais são: remitente-recorrente (EMRR), secundária progressiva (EMSP), primária progressiva (EMPP).

  • Remitente-recorrente

Geralmente essa é a forma inicial da doença, caracterizada pela alternância entre surtos, provocados pela desmielinização e remissão – melhora dos sintomas de forma espontânea ou induzida por tratamento. Os sintomas mais comuns são: dificuldades de locomoção, problemas visuais e sensoriais como formigamento, dormência, dor e sensibilidade ao toque.

  • Secundária progressiva

Com o tempo, a EM pode evoluir da forma remitente-recorrente para um padrão progressivo. A estimativa é que metade dos pacientes possam evoluir para essa forma, na qual não há mais uma recuperação plena dos surdos e sequelas começam a aparecer. Essa fase é caracterizada pela maior dificuldade de enxergar e de locomoção.

  • Primária-progressiva

É a forma menos comum da doença, representando aproximadamente 10% dos casos, caracterizada pelo avanço progresivo da doença, sem ter a passagem pela fase remitente-recorrente. Nesse quadro clínico há um acúmulo dos sintomas e sequelas ao longo dos anos e não têm períodos de remissão.

O diagnóstico da EM e sua forma é realizado por uma avaliação médica. Através das queixas do paciente, o médico vai pesquisar os hábitos de vida, histórico familiar, antecedentes médicos e orientar a realização de exames físicos e clínicos. Dentre as análises clínicas são realizados exames neurológicos, análises oftalmológicas, em especial de fundo de olho para verificar alteração no nervo óptico, e exames de imagem como a ressonância magnética de crânio e coluna.

Ainda, como exame adjuvante, pode ser recomendado uma análise do líquor – líquido presente entre as membranas do cérebro e da medula – sendo possível identificar marcadores específicos que auxiliam no diagnóstico.

A relação entre o colesterol e a esclerose múltipla

Um estudo recentemente publicado em uma importante revista científica chamada Autoimmunity Reviews, mostra uma possível relação entre o metabolismo lipídico e o aumento da atividade da EM, porém vale lembrar que essa causalidade ainda deve ser melhor elucidada.

Alguns exemplos podem ser relacionados ao papel do colesterol na influência de processos inflamatórios, na formação da aterosclerose e na integridade das membranas celulares, principalmente das células do sistema nervoso central. Reunindo esses conhecimentos, existem evidências preliminares de que um tratamento para redução do colesterol pode ser benéfico para pacientes com EM.

Embora o estudo aponte evidências desta relação é de suma importância que pacientes com EM sigam as recomendações de um médico para o gerenciamento da doença. Isso inclui adotar o tratamento prescrito, manter uma dieta balanceada e saudável, além de manter um estilo de vida ativo. Enquanto as pesquisas avançam para fornecer melhores compreensões dessa possível relação, faça consultas regulares com especialistas da saúde para monitorar quaisquer alterações em seu organismo.

Nós, do Santa Clara Diagnósticos Médicos, assumimos o compromisso de cuidar de você e de quem você ama. Por isso, temos uma equipe preparada para lhe atender com todo cuidado e atenção que você e a sua saúde merecem!

Referências científicas:

MDSaúde. Colesterol: o que são HDL, LDL, VLDL e Triglicerídeos. Disponível em: https://www.mdsaude.com/cardiologia/colesterol/colesterol-hdl-ldl-triglicerideos/. Acesso em 07/08/2023.

Ministério da Saúde. Esclerose Múltipla. Disponível em: https://www.saude.go.gov.br/biblioteca/7602-esclerose-m%C3%BAltipla. Acesso em: 04/08/2023.

Balazs Lorincz, Elizabeth C. Jury, Michal Vrablik, Murali Ramanathan, Tomas Uher, The role of cholesterol metabolism in multiple sclerosis: From molecular pathophysiology to radiological and clinical disease activity, Autoimmunity Reviews, Volume 21, Issue 6, 2022, 103088, ISSN 1568-9972, https://doi.org/10.1016/j.autrev.2022.103088.