Santa Clara

Como a automedicação de corticoides pode ser prejudicial à saúde?

O uso indiscriminado de medicamentos é um problema de saúde pública em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada. Além disso, estima-se que pelo menos metade dos pacientes não tomem seus medicamentos corretamente.

Nesse sentido, é cada vez mais importante alertar e conscientizar a população sobre o uso racional de medicamentos, uma prática essencial que garante a segurança e eficácia dos tratamentos médicos. A automedicação pode parecer uma solução rápida e conveniente para tratar alguns sintomas, mas pode representar um risco significativo para a saúde da população.

O uso indevido de medicamentos está diretamente associado ao surgimento de efeitos colaterais indesejados, a resistência antimicrobiana, interações medicamentosas e ao desenvolvimento de doenças associadas ao uso excessivo ou prolongado de determinadas substâncias.

Como exemplo, podemos citar o uso indiscriminado de corticoides, que pode desencadear a Síndrome de Cushing Iatrogênica, uma condição grave que pode afetar diversos sistemas do corpo.

Neste sentido, é fundamental compreender a importância do uso racional de medicamentos e buscar orientação médica adequada para evitar complicações de saúde.

O que é a automedicação?

A automedicação é o ato de utilizar medicamentos sem prescrição médica ou sem seguir as orientações do profissional de saúde. Isso inclui medicamentos comprados sem receita, receitados para outras pessoas ou até mesmo sobras de tratamentos anteriores.

No dia a dia, a automedicação é comum para tratar sintomas como dores em geral, febre, cólicas, dor de cabeça, entre outros. As pessoas muitas vezes recorrem a medicamentos que já utilizaram anteriormente ou que foram recomendados por conhecidos, sem considerar as possíveis contraindicações, efeitos colaterais ou interações medicamentosas.

No entanto, é importante destacar que nem todos os medicamentos podem ser usados dessa forma. Existem substâncias controladas ou que precisam de acompanhamento de um profissional de saúde, como é o caso de anti-inflamatórios corticoides, que só devem ser utilizados com prescrição de receita médica.

Os corticoides são medicamentos que possuem efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores e são utilizados no tratamento de diversas doenças, como alergias, doenças autoimunes, asma, entre outras. No entanto, o uso prolongado ou excessivo dessas substâncias pode desencadear a chamada Síndrome de Cushing Iatrogênica, uma condição grave que pode levar a uma série de complicações de saúde.

O que é a Síndrome de Cushing Iatrogênica?

A Síndrome de Cushing Iatrogênica é uma condição causada pelo uso prolongado ou excessivo de corticoides. O termo “iatrogênica” é utilizado na área da saúde para descrever danos ou complicações que foram causados ??por intervenções médicas ou tratamentos, incluindo medicamentos, cirurgias ou outros procedimentos. Em outras palavras, iatrogênica se refere a doenças ou lesões que foram causadas por ações médicas.

As principais causas da síndrome são o uso prolongado de corticoides por via oral, inalatória, tópica ou injetável. Quando utilizados de forma prolongada ou em doses elevadas, esses medicamentos podem afetar o equilíbrio hormonal do organismo, aumentando demasiadamente e de forma constante a produção de cortisol (produzido pelas glândulas adrenais), um dos hormônios responsáveis por controlar diversos processos metabólicos do corpo.

Essa elevação persistente do cortisol gera diversas consequências para a pessoa, como o surgimento de sintomas físicos que incluem:

– Aumento de peso (acúmulo de gordura abdominal)

– Face arredondada e avermelhada

– Acne

– Estrias avermelhadas na pele,

– Aumento da gordura na região do pescoço

– Fraqueza muscular

O cortisol é um hormônio que participa também do controle comportamental, principalmente do eixo de estresse. Dessa forma, alterações na sua produção podem impactar em sintomas e doenças emocionais/mentais, como depressão, ansiedade e alterações do humor.

Caso não seja devidamente tratada, a Síndrome de Cushing Iatrogênica pode levar ao surgimento de doenças cardiovasculares (ataque cardíaco e derrame, por exemplo), osteoporose, hipertensão, hipercolesterolemia, resistência à insulina e pré-diabetes ou diabetes do tipo 2.

Como diagnosticar a condição?

O diagnóstico é realizado utilizando os achados clínicos em conjunto com análises laboratoriais, pois os sintomas físicos são muito comuns a outras doenças, o que pode mascarar o real problema.

Para chegar a um diagnóstico conclusivo, são realizadas dosagens do hormônio cortisol no sangue do paciente, um dos principais indicadores da presença da Síndrome de Cushing. O cortisol também pode ser medido na urina ou saliva em um período de 24 horas. Isso ajuda a determinar a quantidade total de cortisol produzido pelo corpo.

Existem também vários testes que podem ser realizados para medir a produção de hormônios que afetam a produção de cortisol, como o ACTH e o CRH. O teste de supressão de cortisol pós-utilização de dexametasona também é frequentemente utilizado para diagnosticar a Síndrome de Cushing.

Por fim, podem ser utilizados ainda exames de imagem, como a ressonância magnética e a tomografia. Esses exames são capazes de mostrar tumores ou outras anormalidades nas glândulas adrenais, ou pituitária, que podem estar causando a produção excessiva de cortisol.

Existe tratamento para Síndrome de Cushing Iatrogênica?

Sim, existe! O objetivo principal do tratamento é reduzir os níveis de cortisol no corpo e minimizar os efeitos colaterais da síndrome por meio de medicamentos e opções terapêuticas não medicamentosas.

Na maioria dos casos, o tratamento envolve a interrupção do medicamento que está causando a síndrome. Caso não seja possível a interrupção, recomenda-se reduzir a dose ou substituí-lo por uma alternativa mais segura.

Além disso, algumas mudanças no estilo de vida podem ser úteis para controlar os sintomas da doença, como fazer exercícios regularmente e seguir uma dieta saudável pode ajudar a reduzir a pressão arterial, o açúcar no sangue e o risco de doenças cardíacas (caso haja alterações nesses parâmetros).

No entanto, a melhor maneira de evitar a Síndrome de Cushing Iatrogênica é através da prevenção. Isso significa que os medicamentos corticoides devem ser utilizados apenas sob supervisão médica, seguindo as instruções de dosagem rigorosamente. Os pacientes também devem informar ao médico sobre quaisquer novos sintomas que possam estar relacionados ao uso desses medicamentos. A Síndrome de Cushing Iatrogênica é uma condição séria que pode ter efeitos negativos significativos na sua saúde. Embora existam tratamentos disponíveis, a prevenção é a melhor maneira de evitar a doença. O uso racional de medicamentos, juntamente com o acompanhamento médico adequado, é fundamental para garantir um tratamento seguro e eficaz.

Nós, do Santa Clara Diagnósticos Médicos, assumimos o compromisso de cuidar de você e de quem você ama. Por isso, temos uma equipe preparada para lhe atender com todo cuidado e atenção que você e a sua saúde merecem!

Referências científicas:

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